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Com o lançamento do
incrível Bacurau (confira a resenha
do filme clicando aqui), fiquei me perguntando como ainda existe um público que
critica a produção audiovisual do Brasil.
Frequentemente, ouço
pessoas dizendo que o cinema nacional é ruim, que só tem obras medíocres, com
direção e roteiro fracos – e isso me deixa extremamente irritado. Primeiro,
porque é um grande equívoco; segundo, porque quem fala isso são pessoas que só
assistem uma obra nacional quando são os longas que “estão na moda”: comédias
vazias onde não há desenvolvimento de personagem e os clichês e os estereótipos
são os mais óbvios possíveis.
Isso, aliado a ameaça
e a censura que o cinema nacional vem sofrendo, influência na crise na
indústria audiovisual brasileira, uma de nossas principais formas de expressão
cultural, que também é uma maneira de lutar contra a injustiça e a imposição
através de textos e narrativas provocativas.
Essa ameaça vem se
tornando cada vez mais presente no dia a dia de quem faz cinema no Brasil.
Recentemente, o filme Marighella,
dirigido por Wagner Moura, teve a estreia cancelada. O longa é uma produção inspirada na biografia de Marighella escrita
pelo jornalista Mário Magalhães, que acompanha os últimos cinco anos de vida do
guerrilheiro, do golpe militar de 1964 ao seu assassinato, em 1969.
O
cancelamento da estreia do filme acontece em meio os movimentos de
Jair Bolsonaro para aumentar o controle sobre a Ancine
(Agência Nacional do Cinema) e de críticas explícitas a produções culturais
sobre temas que desagradam o Governo ultraconservador. Em julho, Bolsonaro
chegou a cogitar a extinção da agência caso não pudesse criar um "filtro
de conteúdo", visto como desejo claro de censura pelo setor audiovisual.
Para
saber mais sobre o que vem acontecendo na Ancine e porque ela não pode acabar,
recomendo o vídeo do crítico de cinema Tiago Belotti, do canal Meus 2 Centavos.
Dito isto, preparei uma
lista com 25 filmes para você assistir e para de criticar o cinema nacional. Se
liga!
Só um adendo: a lista
não segue uma ordem (de lançamento ou algo do tipo).
1. Bacurau (2019, Kleber Mendonça Filho)
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O
longa, que tem direção de Kleber Mendonça Filho e roteiro de Juliano Dornelles,
estreou no Brasil no dia 29 de agosto, e arrecadou no primeiro fim de semana R$
1,5 milhão e foi visto por mais de 86 mil espectadores. Na história, moradores
de uma cidade no interior de Pernambuco precisam se defender de invasores
violentos.
2.
Legalidade (2019, Zeca Brito)
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Este,
ao lado de Bacurau, é mais um filme de cinema-resistência do ano. O longa, que
mistura ficção e fatos, resgata
importantes momentos históricos que aconteceram em Porto Alegre, no Rio Grande
do Sul, e que repercutiram em âmbito nacional, durante o movimento liderado pelo
governador Leonel Brizola, em
1961.
3. As Boas Maneiras (2017, Juliana Rojas e
Marco Dutra)
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Uma fábula de horror
que fala sobre um Brasil desigual – isso é o suficiente que você precisa saber
antes de assistir ao filme. No elenco temos Marjorie Estiano e Isabél Zuaa.
4.
Divino
Amor (2019, Gabriel Macaro)
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O longa é ambientado
no Brasil em 2027, onde, ao invés do carnaval, comemora-se a festa do Amor Supremo, uma espécie de rave para aguardar a grande volta do
Messias.
Nesta distopia, encabeçada pelo diretor Gabriel Mascaro, o casamento é mais
do que nunca uma instituição sagrada e uma gravidez é motivo claro de alegria -
afinal, se está diante de um milagre de Deus. Esses valores são tão fortes que
existem até mesmo scanners na porta
de cada estabelecimento, revelando o estado civil do cliente e se há ou não um
feto no seu ventre.
5.
O Animal Cordial (2017, Gabriela Amaral Almeida)
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Gabriela Amaral
Almeida é mestre em literatura e em cinema de terror e O Animal Cordial é o primeiro longa-metragem dela. A trama se passa
em um restaurante meio falido, num local isolado, que
recentemente passou por um assalto e agora está vivenciando outro - para azar
de clientes, funcionários e dos próprios ladrões. O assalto não sai como se
espera, ao longo de uma madrugada sangrenta.
O filme aborda de uma
maneira não clichê questões como diferenças de classe e ideológica.
6. Bingo – O Rei Das Manhãs (2017, Daniel Rezende)
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O
filme é uma cinebiografia de Arlindo Barreto (Vladimir Brichta), um dos intérpretes do
palhaço Bozo no programa matinal homônimo da televisão brasileira durante a
década de 1980. Barreto alcançou a fama graças ao personagem, apesar de jamais
ser reconhecido pelas pessoas por sempre estar fantasiado.
Esta
frustração o levou a se envolver com drogas, chegando a utilizar cocaína e
crack nos bastidores do programa. O longa se saiu bem na crítica e foi cogitada
uma indicação ao Oscar, mas, infelizmente, não rolou. Porém, foi o maior
vencedor do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2018, levando oito troféus, incluindo
Melhor Filme de Ficção.
7.
Que Horas Ela
Volta? (2015, Anna Muylaert)
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Com
Regina Casé no elenco, Que Horas Ela
Volta? faz uma crítica à desigualdade social brasileira. Na trama, Val,
interpretada por Regina, é uma empregada doméstica que trabalha para uma
família de classe média alta de São Paulo. A chegada da filha, Jéssica (Camila
Márdila), na casa dos patrões acaba criando um choque de realidade e cultura.
Infelizmente,
o filme não concorreu ao Oscar, mas foi premiado no Festival de Sundance em
2015, no Festival Internacional de Berlim.
8. Cidade De Deus (2000, Fernando Meirelles e
Kátia Lund)
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Este clássico
nacional é uma adaptação do romance homônimo de estreia de Paulo Lins, trata
sobre a ascensão do crime na favela Cidade de Deus, que começou sua história
como um conjunto habitacional em 1966. O longa recebeu quatro indicações ao Oscar,
entre elas Melhor Diretor e Melhor Edição.
9.
Central Do Brasil
(1998, Walter Salles)
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O filme conta a história de Dora (Fernanda Montenegro), uma
mulher que ganha dinheiro escrevendo cartas para analfabetos na Central do
Brasil. Depois de escritas, as cartas passam pelo crivo da censura de Irene (Marília
Pêra) e da própria Dora, que julgam quais deverão ser enviadas ou não. É quando
a mulher se vê envolvida com o triste destino de Josué (Vinícius de Oliveira),
um garoto de 9 anos cuja mãe é atropelada e morta em frente à estação onde Dora
trabalha.
Central
do Brasil foi indicado ao Oscar, Globo de Ouro, Festival de Berlim, Cesar Awards e
ao Independent Spirit Awards. Além
disso, foi a primeira vez que uma artista latino-americana foi indicada
ao Oscar na categoria Melhor Atriz Principal, grande feito da Fernanda
Montenegro.
10.
Tropa De Elite (2007, José Padilha)
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Com Wagner Moura no elenco, o filme mostra o dia a dia do
grupo de policiais e de um capitão do BOPE, que quer deixar a corporação e
tenta encontrar um substituto para seu posto. Paralelamente dois amigos de
infância se tornam policiais e se destacam pela honestidade e honra ao realizar
suas funções, se indignando com a corrupção existente no batalhão em que atuam.
Recomendo que você veja também a continuação, Tropa de Elite: O Inimigo Agora É Outro,
de 2010.
11.
O Auto Da
Compadecida (2000, Guel Arraes)
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Considerado o maior
clássico da comédia nacional, o filme conta a história de
dois amigos que vivem em Cabeceiras, interior da Paraíba, que para sobreviver,
eles tiram proveito da “esperteza” de João Grilo, sempre com seus planos
arriscados e muita lábia. O longa é uma caricatura das pequenas cidades nordestinas:
paupérrima, pacata, seca, com um coronel e uma igreja.
12.
Como
Nossos Pais (2017, Laís Bodanzky)
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Certo
dia, durante mais um almoço repleto de hostilidade na casa da mãe, Clarice (Clarice
Abujamra), Rosa (Maria Ribeiro) ouve uma revelação que serve como a gota d’água
em seu cotidiano já exaustivo, atirando-a numa crise que a fará questionar o
casamento, o emprego e seu próprio papel como mulher na sociedade.
O
filme venceu em duas categorias (Melhor Atriz e Melhor Direção) no Grande
Prêmio do Cinema Brasileiro.
13.
Lavoura Arcaica
(2001, Luiz Fernando Carvalho)
Adaptação
do livro homônimo do paulista Raduan Nassar, Lavoura Arcaica gira
em torno de André (Selton Mello), que, esmagado pelos próprios impulsos sexuais
e ambições de liberdade (condenados pela conservadora comunidade em que vive),
mergulha em um implacável cotidiano de auto-flagelação espiritual, renegando a
própria impureza, mas ciente, de alguma forma, de que tem o direito de exprimir
seus desejos – o que o leva a fugir de casa.
14.
O
Pagador De Promessas (1962, Anselmo Duarte)
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Zé do Burro, interpretado brilhantemente por Leonardo Vilar,
é uma pessoa simples que, ao tentar apenas concretizar o cumprimento de uma
promessa concebida em um terreiro de candomblé – levar ao longo de um caminho
extenso uma cruz de grande peso -, se vê diante da intolerância da Igreja.
15. Bicho De Sete Cabeças (2001, Laís Bodanzky)
O filme, inspirado no livro autobiográfico de Austregésilo
Carrano, O Canto dos Malditos, conta a história de Neto (Rodrigo
Santoro), um adolescente perfeitamente sadio que é internado em um manicômio
por seu pai, que espera, com isso, afastar o filho das drogas.
16. O Som Ao Redor (2013, Kleber Mendonça Filho)
Escrito
pelo cineasta Kleber Medonça Filho e dividido em três partes, o filme se
espalha entre uma dúzia de personagens que, habitando uma rua de Recife,
protagonizam pequenos conflitos despertados pela convivência próxima, dão vazão
a insatisfações que um velho comunista chamaria de “pequeno-burguesas” e tentam
extrair o máximo de felicidade a partir do mínimo possível de estímulo. Neste
sentido, O Som ao Redor se revela não um estudo de personagens,
mas um autêntico estudo de classe.
17. Aquarius (2016, Kleber Mendonça Filho)
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Também dirigido pelo
Kleber Mendonça Filho, Aquarius segue Clara (Sônia
Braga), jornalista e crítica de música, viúva, última moradora do
Aquarius, edifício antigo na valorizada orla da praia da Boa Viagem, Recife.
Personificada no engenheiro Diego (Humberto
Carrão), que quer derrubar o Aquarius, a especulação imobiliária é o
pesadelo que assombra os dias e as solitárias noites de Clara.
O filme foi aclamado
no Festival de Cannes, foi indicado ao César 2017, o Oscar do cinema francês, e
levou o
prêmio de Melhor Filme Estrangeiro de 2016 da União Francesa de Críticos de
Cinema.
18. Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014, Daniel Ribeiro)
O filme retoma os
personagens, o elenco e a história do curta Eu não Quero Voltar Sozinho,
de 2010, que ganhou prêmios em festivais e depois repercutiu no YouTube, onde tem quase 3 milhões de visualizações
(confira clicando aqui). O longa conta a história de Leonardo (Guilherme Lobo),
um adolescente cego, que tenta lidar coma mãe superprotetora ao mesmo tempo em
que busca sua independência.
19. Pixote – A Lei Do Mais Fraco (1981, Héctor Babenco)
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O
longa mostra a trajetória de um menino abandonado de 11 anos, que vive na rua
após a fuga de um reformatório, onde aprendeu bastante sobre o crime ao
conviver com todos os tipos de delinquentes. Ele sobrevive no Rio de Janeiro
atuando como traficante, assassino e, até, cafetão.
Pixote – A Lei Do Mais Fraco
foi indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.
20. Terra Em Transe (1967, Glauber Rocha)
Na trama, o senador Porfírio Diaz (Paulo Autran) detesta seu
povo e pretende tornar-se imperador de Eldorado, um país localizado na América
do Sul. Porém, diversos homens que também querem este poder, resolvem
enfrentá-lo. Enquanto isso, o poeta e jornalista Paulo Martins (Jardel Filho),
ao perceber as reais intenções de Diaz, muda de lado, abandonando seu antigo
protetor.
21. Faroeste Caboclo (2013, René Sampaio)
Adaptação
para o cinema da música Faroeste Caboclo
de Renato Russo, o longa acompanha a jornada de João (Fabrício Boliveira),
que, nascido em Santo Cristo, se muda para Brasília ao tornar-se adulto,
tornando-se parceiro do primo Pablo (César Troncoso) e apaixonando-se pela
universitária Maria Lúcia (Isis Valverde). Entre pequenos flertes com o crime e
muitas tentativas de levar a vida honestamente, João acaba tornando-se inimigo
do traficante Jeremias (Felipe Abib), que conta com o brutal policial Marco
Aurélio (Antônio Calloni) como seu protetor.
22. O Filme Da Minha Vida (2017, Selton Mello)
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Baseado
no livro do chileno Antonio Skármeta (que faz uma breve participação na
sequência que se passa em um bordel),
o filme acompanha Tony (Johnny
Massaro), filho de um francês e uma brasileira, que vai estudar na
capital e pensa ter a vida perfeita. Mas isso muda quando ele volta para sua
cidadezinha e vê seu pai (Vincent Cassel)
ir embora para a França sem nenhuma explicação.
23. Capitães Da Areia (2011, Cecília Amado e Guy Gonçalves)
Pedro Bala,
Professor, Gato, Sem-Pernas, Boa Vida e Dora, personagens imortalizados na obra
de Jorge Amado, ganham as telonas no cinema com Capitães da Areia, longa assinado por Cecília Amado, neta do
escritor baiano.
Assim como no romance
publicado na década de 1930, a narrativa traz a história de um grupo de
crianças e adolescentes abandonados por suas famílias e que crescem nas ruas de
Salvador, praticando assaltos, e fugindo da polícia enquanto lutam para
sobreviver.
24.
O Cheiro Do Ralo
(2007, Heitor Dhalia)
Lourenço (Selton Mello), um comprador de
objetos usados, vive enfurnado em um galpão, protegido dos fracassados do mundo
por uma secretária (Martha Meola)
e um segurança (o próprio Mutarelli, divertidíssimo). Os dois cuidam de filtrar
os desesperados que podem entrar na sala do chefe e oferecer seus tesouros e
tralhas a ele.
25.
Nise – O Coração Da Loucura (2016, Roberto Berliner)
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Com uma embalagem de
drama histórico, em sua reconstituição do Rio de Janeiro dos anos 1940, o longa-metragem
faz um recorte demarcado na biografia da alagoana Nise da
Silveira (1905-1999), médica responsável por uma rediscussão das práticas
violentas no atendimento a pacientes com distúrbios mentais.
Com Glória Pires no papel
central, o longa se debruça sobre um período estimado em cerca de uma década no
qual Dra. Nise é reintegrada ao serviço
público e vai cuidar dos internos do Centro Psiquiátrico Pedro II,
no Engenho de Dentro.
O longa de Robert
Berliner foi premiado no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, entre outros.
Ufa! Bom, agora você
tem uma lista completa de filmes nacionais para assistir e parar de criticar o
nosso cinema.
É muito importante
ressaltar que o cinema produzido aqui no Brasil é
forte, relevante e belo. Uma pena ele ser mais valorizado fora do nosso país do
que por nós mesmo.
E aí, gostou da
lista? Legal para fazer uma maratona, não é mesmo? Deixa aqui embaixo nos
comentários quantos desses filmes você já assistiu e o que achou deles.
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