RESENHA: BACURAU - SE FOR, VÁ NA PAZ


O filme Bacurau pode ser definido como um filme distópico. A história contada se passa “daqui a alguns anos” e tem como numa cidade do interior de Pernambuco onde os moradores precisam se defender de invasores violentos.

O nome faz referência a uma ave tipica da América Tropical que possui hábitos noturnos
Foto: Reprodução/Divulgação

O longa que tem direção de Kleber Mendonça Filho e roteiro de Juliano Dornelles recebeu o Prêmio do Júri em Cannes, e tem dado o que falar nas rodas de conversas. Não é à toa, afinal os números impressionam: a obra estreou no Brasil no dia 29 de agosto, e só no primeiro fim de semana arrecadou R$ 1,5 milhão e foi visto por mais de 86 mil espectadores.

Com elementos de filmes de faroeste e um pouco de sci-fi, Bacurau consegue resgatar a essência da vida sertaneja e ainda fazer uma crítica ferrenha à atual situação política do Brasil. Os diretores negam esta última parte, pois o filme começou a ser idealizado em 2009 e teve as filmagens concluídas no começo de 2018. Mas há quem diga que a carapuça serve certinho.

A trama começa com o retorno de Teresa (Bárbara Collen) a tempo de presenciar o velório de sua avó, Dona Carmelita. Todo o vilarejo se reúne num grande cortejo com direito a carro de som e cantigas para a despedida da senhora que representa muitas matriarcas de interiores do Brasil. Assim como Teresa que representa os filhos que saem do seu lugar de origem e conseguem ascender na vida. Ela volta médica, trazendo vacinas contrabandeadas para o seu povo tão necessitado e abandonado pelo governo.


Foto: Reprodução/Divulgação

Governo esse, que aparece na persona de Tony Filho, prefeito que não liga a mínima para a população a ponto de doar cestas básicas vencidas em troca de votos. Mas o povo sabe disso e num ato puramente político se escondem quando ele faz visitas ao povoado.

Bacurau é um retrato ficcional do Brasil, mas que se torna real quando o analisamos nas entrelinhas. E seus personagens colaboram muito para tal efeito. Plínio (Wilson Rabelo) é pai de Teresa e professor resiliente na cidade. Acredita no conhecimento como elemento transformador da pobreza. Por que um homem tão culto está numa cidade sem futuro? Ora, para resgatar quantos jovens for possível.

Sônia Braga é fantástica ao dar vida a Domingas, uma forte figura – incógnita - da cidade e dona de uma incrível dualidade.

Quase no meio da história somos apresentados a Lunga interpretado por Silvero Pereira. Ele é uma caricatura do cangaceiro contemporâneo, odiado pela polícia e amado pela população que vê nele um herói.

Mas a história pega no tranco, por assim dizer, quando dois desconhecidos aparecem de motocicletas e afirmam que a cidade não consta no mapa, ao mesmo tempo em que moradores de uma fazenda próxima encontrados mortos de maneira misteriosa. A presença destes turistas é um tapa na cara daqueles que se dizem “brancos” num país criado pela miscigenação forçada e violenta como o Brasil.

Foto: Reprodução/Divulgação

Com o desenrolar, descobrimos a origem dos assassinatos e dos “discos voadores” que cercam o filme, e os bacurenses (também chamados de gente) tramam a sua defesa quando sentem a ameaça chegando. E eles conseguem revidar à altura.
Mas até neste momento, o filme consegue ser sensível ao tratar da reação violenta dos moradores aos seus pretensos aniquiladores. Por favor, não confundam a reação do oprimido com a ação arbitrária do opressor. A mensagem de união e resistência dos brasileiros é a essência deste filme que trata de forma assertiva sobre as mazelas políticas e sociais dos brasileiros.

Em certo momento do longa, um personagem pergunta: “Você acha que ele exagerou?”. E a resposta vem sem hesitação: “Não”. Esse pequeno diálogo serve como provocação à ousadia dos criadores do filme em trazer a barbárie num filme comercial (apesar das características líricas) e provocar uma discussão sobre a falsa moralidade que quer tomar conta do futuro do país.

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Autor Tainan Lopes

Estudante de Jornalismo. Ariana do bem, Made in Bahia. Apaixonada por filmes e séries, livros, café e música.
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