RESENHA: THE LION KING: THE GIFT by Beyoncé



Beyoncé e Blue Ivy no clipe da música Bigger / Reprodução

Beyoncé Giselle Knowles-Carter, dispensa apresentações. Tida como uma das vozes mais poderosas da contemporaneidade e a artista mais premiada da indústria fonográfica. Apesar da vida reservada, a cantora e produtora mostra seu poder de comandar a música e o entretenimento.

Nos últimos anos, lançou a obra de arte em forma de álbum visual Lemonade, e o Homecoming, documentário sobre os bastidores da sua performance no Beychella, ops, “Coachella”. Além de lançar o álbum ao vivo da apresentação em todas as plataformas digitais. Vale ressaltar que o documentário concorre a seis categorias do Emmy Awards 2019.

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Este ano, ela se lança ao cinema, dublando a leoa Nala, no remake da Disney “O Rei Leão”. Mas não acaba aí. Beyoncé produz e canta um álbum completo inspirado no filme, intitulado The Lion King: The Gift. Especialmente para o longa, ela escreveu e produziu o clipe para a música Spirit, lançado poucos dias antes da estreia do filme. E que provavelmente vai concorrer ao Oscar de Melhor Canção Original. 


Segundo a própria artista, o álbum é uma carta de amor à África. E que carta! O trabalho de 27 faixas (sendo 13 interlúdios de diálogos do próprio filme) que ela mesma produziu e fez a curadoria. Mas ela não está sozinha. O álbum reúne grandes nomes da música como Jay-Z, Kendrick Lamar, Donald Glover, Pharrell Williams e Major Lazer. Até Blue Ivy, filha de Beyoncé, tem uma pontinha no disco.

"Queria ser autêntica com a beleza da música africana", disse Beyoncé em entrevista ao programa da ABC. E não desapontou. Ela trouxe diversos músicos africanos para ajudá-la como os nigerianos Tekno, Yemi Alade e Eazi, junto com a artista ganense de reggae-dancehall Shatta Wale. E a estrela de música urbana camaronesa Salatiel.

Para alguns, essa mistura de ritmos e vozes acabou por deixar Beyoncé apagada. Ledo engano. A artista tem mostrado ao longo de 22 anos de carreira que está em um outro patamar do mundo fonográfico.

Agora, ela deseja dar voz e vez aos outros. Como exemplo, temos a dupla Chloe e Halle Bailey que começaram fazendo um cover de Pretty Hurts e acabaram com um contrato com a gravadora da própria Beyoncé. Em 2018, a dupla recebeu 2 indicações ao Grammy, como Melhor Álbum de R&B Contemporâneo e de Artista Revelação.

O álbum não é cheio de hits como foram os icônicos B Day, Sasha Fierce e o BEYONCÉ. A cantora está mais madura e consegue enxergar muito além dos singles que disputam o topo das paradas de sucesso. Agora, ela quer qualidade e conteúdo, deixar sua marca. Beyoncé é um conceito. Sua evolução como artista. E “The Gift” é um belo exemplo.

A faixa Bigger, canta isso quando Beyoncé diz:

If you feel insignificant, you better think again. Better wake up because. You're part of something way bigger / Se você se sentir insignificante, é melhor pensar novamente. Melhor acordar porque. Você é parte de algo muito maior”.
(Bigger)

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Beyoncé não se importa mais com os números dos streamings. Ela transforma as próximas gerações. Quando ela fala no futuro ela cita Blue, sua filha mais velha que aparece no clipe da música.

I'll be the roots, you be the tree. Pass on the fruit that was given to me. You got my blood in ya. And you're gonna rise / Eu serei as raízes, você será a árvore. Passe a fruta que me foi dada. Você tem meu sangue em você. E você vai subir”
  (Bigger) 

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O álbum está recheado de referências sobre legado, futuro e empoderamento negro. É uma espécie de cantiga infantil. E tem exatamente este propósito, pois consegue falar com as garotinhas que ouvem dos colegas que seu cabelo é duro ou sua pele é feia. A música é um escudo contra esses preconceitos. E traz referência da época em que a própria Blue sofreu preconceito por causa do seu cabelo black power.


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Brown skin girl, ya skin just like pearls. The best thing in all the world. I never trade you for anybody else, say / Menina negra, sua pele é como pérolas. A melhor coisa do mundo todo. Eu nunca trocaria você por mais ninguém, diga”

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Nos seus últimos trabalhos, Beyoncé tem mostrado referências fortes na luta contra o racismo e orgulho de suas origens. Para alguns ela perde espaço comercial. O que é verdade, mas ainda assim estamos falando de Beyoncé. A música que teve um desempenho mais morno digamos assim, foi Spirit. E ainda assim alcançou o número um no Top R&B World, Top R&B/HipHop e número um no World Albums Sales. Estreando em segundo lugar na Billborad 200 e a Rolling Stones 200.

Alguns diriam que a  mera presença dela fez o filme atingir a marca de 1 bilhão de dólares em 20 dias de exibição.

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Took everything in life, baby, know your worth. I love everything about you, from your nappy curls / Pegue tudo na vida, querida, saiba seu valor. Eu amo tudo em você, de seus cachos crespos”
Brown Skin Girl


Esses dados são importantes, uma vez que mostram o resultado de Beyoncé, não como pessoa, mas sim como mulher negra. Uma mulher negra que está  no topo da indústria musical há duas décadas. Ela é a referência para várias meninas negras que cresceram sem se enxergar em posições de poder.

As dançarinas atrás de Beyoncé fazem referência às gerações
passadas que influenciaram a carreira da cantora. / Reprodução

I am Beyoncé Giselle Knowles-Carter. I am the Nala, sister of Naruba. Osun, Queen Sheba, I am the mother. Ankh on my gold chain, ice on my whole chain. I be like soul food, I am a whole mood / Eu sou Beyoncé Giselle Knowles-Carter. Eu sou a Nala, irmã de Naruba. Oxum, Rainha de Sabá, eu sou a mãe. Ankh na minha corrente de ouro, joias por toda a corrente. Eu sou tipo comida soul, eu sou um estado de espírito”

MOOD 4 EVA

Beyoncé representa a árvore da vida como o criador. As pessoas sentadas são os negros,
que representam as suas raízes, o povo africano.  Ela faz referência a Oxum,
rainha da água doce, dona dos rios e cachoeiras. Oxum é a segunda esposa de
Xangô e representa a sabedoria e o poder feminino. / Reprodução


A cantora trouxe referências dos orixás. Na cena, Beyoncé representa Oyá-Iansã,
orixá que tem o domínio sobre os ventos, raios, e as chuvas torrenciais.
Ela é guerreira, representada pela cor vermelha. / Reprodução
A ancestralidade africana de Beyoncé nunca esteve tão presente em seus trabalhos anteriores, quanto está em evidência neste. Há referências nas letras, nos sons, na coreografia  e também nos figurinos. Tudo pensado para gerar impacto e promover uma lição sobre negritude e autoestima.


Reprodução
“The Gift” pode não gerar tanto lucro em termos financeiros, mas é um álbum cheio de lições, musicalidade e relevância para fãs e para a geração negra que está começando a ter orgulho de seus traços. E Beyoncé tem esse objetivo.

'Cause true kings don't die, we multiply, Peace
Porque verdadeiros reis não morrem, nós multiplicamos, paz
MOOD 4 EVA


Postado por: Tainan Lopes
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Autor Tainan Lopes

Estudante de Jornalismo. Ariana do bem, Made in Bahia. Apaixonada por filmes e séries, livros, café e música.
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