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Confesso que demorei um pouco
além da conta para assistir Parasita. Não por questão de assistir legendado,
mas por que estava com medo de levar outro soco como levei ao ver Bacurau.
Apesar de ser em uma língua
estrangeira e possuir uma cultura tão diferente da nossa, Parasita consegue
traduzir a realidade das desigualdades sociais para uma linguagem universal
vivida diariamente em muitos países, inclusive o Brasil.
Depois de assistir percebi
todo o alvoroço ao redor da temática do longa de Bong Joon Ho (sim, o mesmo de
Okja). Por falar em temática, o filme é um enigma quanto ao gênero, devido a
sua transitividade entre comédia, drama e suspense. Quem for assistir se
prepare para uma montanha russa de emoções.
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A história narra a vida
precária da família Kim. Pai, mãe e dois filhos que vivem na periferia de Seul
em um uma casa abaixo do nível do solo. Em uma cena é possível ver uma medalha de
olímpica conquistada pela mãe em um dia de glória que claramente não os
acompanhou por muito tempo.
Eles têm um vislumbre de
mudança de vida quando o amigo do caçula o indica para ser tutor da filha mais
velha de uma família rica. Rapidamente Ki-woo consegue colocar toda a família para
trabalhar na casa sob nomes falsos. Nesta altura, você não
consegue mais disfarçar a sua torcida para que eles não sejam desmascarados, o
que aprece que vai acontecer a cada momento. Ao passo que o filme vai nos
agarrando em suas teias no apegamos também a família Park. A intenção de Bong
não é fazê-los antagonistas, muito pelo contrário, a sua crítica é mais
dirigida ao capitalismo do que as pessoas em si.
As metáforas são bastante
recorrentes na produção que possui Bong como co-roteirista. A cena da família
voltando para sua casa embaixo de chuva depois de desfrutar de um sonho
desperto e completamente utópico revela os níveis que colocam pessoas em
situações quase irreversíveis de injustiças sociais. As escadarias descidas são
os níveis de subalternização a que a classe pobre é submetida. Quanto maior a
altura, maior é a queda.
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O filme é focado em diálogos que podem servir como reflexões para a vida
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A desvalorização do ser humano
é outro ponto que coloca num carrossel de empatia e uma dinâmica de personagens
feita com maestria pelo diretor que também levou sua estatueta pela direção para
casa no último dia 9. O roteiro apesar de em certos pontos ser previsíveis
consegue nos prender no último momento, por que nada neste filme tem uma única face.
Parasita nos transporta a um passeio melancólico da descoberta de que não
existe dicotomia uma vez que a indiferença não a permite enxergar o outro como
um igual em uma batalha. A pergunta que Bong nos deixa no filme é: quem é o
verdadeiro parasita numa sociedade capitalista e indiferente?
Vi ontem, realmente merecida toda a atenção que o filme vêm ganhando. Excelente texto, novamente!
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