A CAMINHO DA INTERMITÊNCIA

Jornalistas sentem o peso da reforma trabalhista e são obrigados a buscar novos rumos para exercer sua função


Foto: Andrei Campos

Após 1 ano e 6 meses de aprovação da reforma trabalhista, projeto de lei proposto pelo então Presidente da República, Michel Temer, com o argumento de que elevaria a criação de empregos no Brasil, não vem se concretizando, pelo contrário, a taxa de desocupação se elevou de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são 13,4 milhões de desempregados, 12,7% no trimestre encerrado em março deste ano. O mercado segue sendo impulsionado por trabalhadores informais e por contra própria, enquanto o emprego de carteira assinada segue em queda. Aos profissionais da área de comunicação esse quadro não é diferente, para Marjorie Moura, Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Estado da Bahia (SINJORBA). essa situação já era esperada pelas entidades organizadas em torno do trabalho. “A informação de que ela serviria para aumentar os postos de trabalho, desde o início, os sindicatos, as centrais, as entidades organizadas em torno do trabalho já sabiam que era falsa, porque, como é que você vai criar mais vagas diminuindo direitos, isso não existe, as empresas estão na crise, bem como este país, e o que a gente está vendo é aumentar o número de desempregados, e a condução deste atual governo não favorece à criação de trabalho, muito pelo contrário.”


Taxa de desemprego
Índice trimestral em %
Fonte: IBGE


Outro dado preocupante é o aumento da taxa de subutilização, que atingiu 25%, maior série histórica desde quando iniciada, em 2012, para o IBGE é considerado subutilizado aqueles que além de desempregado, trabalha menos do que poderia, que procurou emprego mas não estava disponível para vaga ou que não procurou emprego porém estava disponível para trabalhar.

Taxa de subutilização
Índice trimestral em %
Fonte: IBGE

Prestação de Serviços: famoso MEI

A reforma trabalhista permitiu a ampliação da terceirização da mão de obra para as empresas, com isso abriu espaço para o aumento do número de trabalhadores por conta própria, isso inclui os microempreendedores individuais (MEIs), que já ultrapassou a marca de 8 milhões de cadastrados, fechando o mês de abril com 8.301.074, segundo dados do Portal do Empreendedor do Governo Federal.
Segundo pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), um dos principais motivos que levam aos profissionais ao cadastro como MEI são os benefícios do INSS, porém alguns profissionais são obrigados a se cadastrar devido a exigência do mercado, como é o caso de Érica Pereira, jornalista, a mesma relata também que não se sentiu bem com esse modelo de trabalho. “Os motivos do meu cadastramento como MEI, foi para atuar como Coordenadora de eventos numa empresa, para ficar na vaga foi preciso ser MEI, pois, fui contratada só para fazer o evento, e acabou que não fiquei confortável com algumas situações, pedi demissão com 1 mês e alguns dias.”.
Segundo ela, a reforma não trouxe novas oportunidades aos profissionais de comunicação, prejudicou ainda mais a profissão. “A reforma trabalhista simplesmente, sucateou as profissões, é tão que muitos colegas veteranos foram demitidos, e esses espaços vão ser cobertos por estagiários, pois vai ser mais barato para a empresa.”
Entretanto, Marjorie Moura afirma que está situação não é algo novo para os profissionais de comunicação e ressalta ainda os problemas enfrentados por todos com a reforma trabalhista. “Não foi muito diferente do restante dos trabalhadores, a única coisa é que já havia um processo de precarização das condições de trabalho dos jornalistas com que era chamado de pejotização, que era o jornalista ser obrigado abrir uma empresa e ser contratado por uma empresa embora o ritmo de trabalho fosse o mesmo de um trabalhador comum, ao invés de pejotização surge os MEI’s que são micro empreendedores individuais que também é mesmo processo, se ampliou isso bastante”.
Para André Curvello Filho, representante da empresa AC Comunicação, os benefícios desta reforma é relativo a rapidez com que as empresas podem contratar pessoas para os serviços pontuais. “Em uma empresa de pequeno porte como a AC Comunicação o maior benefício é a possibilidade de uma contratação rápida para projetos temporários ou eventos pontuais que exijam uma equipe maior para os atuais clientes da empresa.” Ele ressalta ainda que “os profissionais tem mais liberdade para exercer trabalhos pontuais”.

Aumento no número de MEIs no Brasil
microempreendedores individuais com registro

Fonte: Portal do Empreendedor

Trabalho Intermitente

Com a reforma trabalhista foi criada a Lei do Trabalho Intermitente, nessa modalidade o trabalhador é pago apenas por período trabalhado, recebendo pelas horas ou diária, ficando a disposição do empregador, sem jornada fixa. Algumas empresas, mesmo que de forma discreta vem contratando seus funcionários de forma intermitente, para os profissionais da área de comunicação também não é diferente. Vanessa Ferreira, jornalista, prestou serviço para uma empresa de comunicação, por meio de uma terceirizada como produtora de conteúdo, ela pondera as vantagens e as desvantagens de um contrato intermitente. “Para quem está começando a carreira, precisa adquirir experiência, fazer o seu network, é bom. É uma oportunidade de aprender um pouco mais sobre o que já sabe e desenvolver novas habilidades também, além de garantir um salário. Mas para o profissional que já está no mercado e deseja construir uma carreira, não é bom. Dependendo da empresa, para quem está começando e como prestador de serviço, o funcionário fica limitado a acesso ao sistema, e-mails, alguns contatos prêmios de incentivo, dentre outras coisas. Você trabalha igual a todos os outros funcionários que possuem o mesmo cargo que você, mesma carga horária, mas com limitações e sem garantia de efetivação ou renovação do contrato, que pode ser interrompido a qualquer momento, além de não ter benefícios como plano de saúde/odontológico, entre outras coisas”.
Para Vanessa, a reforma não trouxe novas oportunidades para os profissionais de comunicação. “As oportunidades são as mesmas, a diferença é o tipo de vínculo empregatício. O trabalho intermitente é bom para a empresa que terceiriza o serviço de um profissional podendo contratá-lo efetivamente. É muito mais barato contratar alguém através de prestação de serviço, a responsabilidade é bem menor.”. “Não vejo vantagem para o profissional de comunicação ficar “pulando de galho em galho”, a menos que ele escolha trabalhar com freelancer. Quem trabalha com comunicação tem que fazer nome, tem que se firmar no mercado e o trabalho intermitente não proporciona isso.”
Para André esse tipo de serviço existe vantagem e desvantagens, tanto para o empregado quanto para o empregador. “Com a vantagem você pode ter a facilidade de inserir no mercado de trabalho, entrar de maneira pontual, fazer relacionamento dentro da empresa e ter a oportunidade de conquistar seu espaço, por outro lado, pode haver aqueles trabalhos que podem ser desvalorizados financeiramente, isso acaba sendo ruim pro mercado.”
Já Marjorie pondera que não existe reflexos dessa nova lei, mas enfatiza a importância do profissional de comunicação está sempre atento a esses aspectos. “O jornalista tem que se informar melhor, buscar o seu sindicato buscar orientação jurídica para não cair nesse processo de firmar um contrato e ficar à espera que seja chamado quando há necessidade da empresa, ele tem tomar as rédeas da situação e procurar sempre quem paga mais em determinado momento, evento ou época do ano.”

Perspectivas

Há quem diga que nos ‘tempos de hoje’ o jornalista é formado para trabalhar como freelancer, não que esta afirmação seja verdadeira. Todavia, os brasileiros foram condicionados a trabalhar sempre de maneira formal, de carteira assinada e buscando sempre a formação de carreira, algo que a intermitência não oferece, embora em tempos de crise seja a única forma encontrada tanto para o empregador como ao empregado que deseja atuar em sua área. Para André este processo faz parte de uma adaptação. “As mudanças não asseguram os direitos trabalhistas porém, no meu ponto de vista, facilitam a inserção do profissional no mercado de trabalho devido à menor burocratização do processo. Em relação à permanência é um processo mais complexo pois depende, não só do profissional, como do empregador e do cliente. É um ciclo.”
Vale salientar que a crise financeira vivida no Brasil, atingiu em cheio as empresas de comunicações e vem afetando diversos setores, somente nos últimos em 3 anos foram fechadas 341,6 mil empresas, segundo levantamento do IBGE.
“É uma crise geral e restrita, os donos das empresas não estão sabendo como lhe dar com este momento com as crises da falta de publicidade e o advento do jornalismo online e o reflexo que sobra é sobre os trabalhadores que tem que repensar sua visão e sua função seu trabalho de que forma vai sobreviver esse período tão difícil para categoria e para os trabalhadores de maneira geral no brasil.”, Presidente do Sindicato (SINJORBA).
Vanessa Ferreira compreende o momento mas tem expectativas futuras. “Eu espero que as grandes empresas sigam optando por dar oportunidade efetiva aos profissionais da área. Terceirizar o serviço de um profissional de comunicação, que já sofre com a desvalorização e mercado tão pequeno como o de Salvador, é deixar claro que qualquer um pode realizar o nosso serviço, basta ter um registro como profissional de comunicação.”, mas para Érica o mais aconselhável é “que todo profissional de comunicação, se capacite cada vez mais, nunca deixar de estudar, ser o melhor no que faz, e empreender, não ficar refém de uma empresa que só utiliza seu trabalho laboral e depois descarta”, diz a jornalista.


Por: Andrei Campos.
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Autor Andrei Carvalho

Estudante de Jornalismo, apaixonado pelo futebol - entendo mais do que jogo!
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