SEX EDUCATION: MAIS ORIGINAL IMPOSSÍVEL




Foto: Divulgação/Netflix
 Confesso que não dei a devida atenção quando a série "Sex Education" apareceu na lista de “adicionados recentemente” do catálogo da Netflix. Depois que você assiste e se decepciona com algumas séries/filmes adolescentes você meio que cria um bloqueio para este tipo de conteúdo. Mas como estava enganada, de novo!

Lançada no começo deste ano sem muito alarde ou marketing, a série surpreende pela qualidade e autenticidade de seu conteúdo. Escrita por Laurie Nunn, a proposta da produção é desconstruir alguns tabus sobre sexo e relações afetivas e familiares.

A trama gira em torno de Otis (Asa Butterfield, de O lar das crianças peculiares), o típico adolescente tímido de 16 anos que está descobrindo as facetas da vida. Ele é filho da terapeuta sexual Jean, interpretada primordialmente por Gillian Anderson (Arquivo X e The Fall).

Otis vive em um ambiente aberto para o diálogo, no qual sua mãe sempre tratou assuntos sobre sexualidade com bastante naturalidade. Mas, apesar de sua criação sem muitas barreiras, o jovem é totalmente travado em relação ao sexo e ao seu próprio corpo.

A narrativa toma forma quando Otis acaba no meio de uma situação inusitada com Adam (Connor Swindells), o valentão que é filho do diretor e Maeve (Emma Mackey), a garota descolada que vem de uma família problemática.  No fim, Otis acaba resolvendo o problema graças aos conhecimentos aprendidos com sua mãe. Na hora, Maeve vê em Otis uma ótima oportunidade de abrir uma “clínica” para ajudar os colegas sobre questões sexuais em troca de dinheiro. Ele aceita, e apesar de não conseguir lidar com os próprios problemas, ele se sai bem e vira um sucesso na escola.

Foto: Sex Education/Netflix

A série faz um ótimo trabalho em educar. Não é apenas mais um besteirol do tipo “American Pie” ou “Todas contra John”. Apesar de alguns estereótipos de filmes adolescentes ainda se fazer presentes como o valentão Adam, que no final você sente mais pena do que raiva, o amigo negro e gay Eric (Ncuti Gatwa), Ruby (Mimi Keene) é a patricinha arrogante que todo mundo que esganar. Jackson (Kedar Williams-Stirling), que namora com Maeve, é o atleta popular sem nenhum defeito. Aimee (Aimee Lou Wood) e Lily (Tanya Reynolds) são as adolescentes amigáveis que cumprem função de alívio cômico em suas descobertas sexuais. Mr. Groff (Alistair Petrie) é o típico diretor de escola linha dura.

Era de se esperar que em oito episódios houvesse uma falha ou aquele episódio chato que não acrescenta em nada. Mas não aqui. A cada episódio a trama vai aprofundando e preenchendo lacunas sobre os personagens. E que personagens! Eles conseguem te conquistar por dois motivos, no mínimo: 1) os atores são muito carismáticos e 2) você se enxerga em uma ou outra situação. Sabe aquela sensação de “poderia ser eu”? Ou vai me dizer que nunca teve aquela conversa constrangedora sobre sexo com seu pai ou mãe?



Mas voltando aos personagens cativantes. Eric é um bibelô que você quer oferecer o mundo e levar para sempre com você. Sem falar nos looks que deixariam até a Lady Gaga com inveja. Ncuti Gatwa está muito bem na pele do personagem. Roubando corações com cenas engraçadíssimas no início da série e com um teor mais dramático nos episódios finais. Apesar de resolvido e assumido com relação a sua sexualidade, Eric passa por maus bocados no caminho da autoafirmação. Vindo de família religiosa, ele carrega toda a pressão da família, além do bullying na escola. Sua relação com o pai é uma grande surpresa e alento para quem assiste.

Ncuti Gatwa interpreta Eric

Emma Mackey, que interpreta Maeve, é outra que chama bastante atenção. Com um visual punk estilo Margot Robbie, ela constrói uma personagem carismática, forte e atual, ao ter uma pegada bem feminista. Com uma família toda bagunçada, ela aprende a se virar sozinha e lidar com as situações da vida.



Todos os personagens vão amadurecendo e revelando camadas que não estavam à mostra antes. Como é o caso da mãe de Otis, Jean. Terapeuta sexual divorciada, totalmente independente e bem resolvida. Em muitos momentos você vai se pegar pensando “poxa, queria uma mãe assim” ou “quero ser ela quando crescer”. Mas até nisso, a série é maravilhosa e consegue desconstruir ao nos mostrar uma pessoa real e com as inseguranças de tal.

"Sex Education" pode ser definida como uma dramédia que é sex sem ser vulgar. A série sabe dosar muito bem comédia e drama. Tratando de temas muito importantes para o público jovem ou não tão jovem assim, como iniciação sexual, homofobia, racismo, virgindade, aborto e vazamento de nudes. Apesar de ter uma cara mais vintage, com cenários, figurinos e trilha sonora bem anos 1990, a série se passa em 2019 com toda a loucura dos smartphone e referências pop como Beyoncé e Kelly Clarkson.

A série nos entrega também momentos lindos de amizade e sororidade feminina (It's my vagina). A Netflix tem feito isso bem nas últimas produções ao desconstruir essa rivalidade ridícula entre meninas. E até mesmo consegue ousar ao mostrar uma amizade verdadeira entre gay e hétero. Isso sem falar na diversidade presente na história, seja étnica ou sexualmente falando. 



"Sex Education" vai além de uma série sobre “educação sexual”. É sobre descobertas, erros e acertos e muita nostalgia dos tempos da adolescência em que tudo era muito confuso. Afinal, adolescência é aquela fase constrangedora que todos desejamos esquecer ou reviver em algum momento da vida.





Postado por: Tainan Lopes

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Autor Tainan Lopes

Estudante de Jornalismo. Ariana do bem, Made in Bahia. Apaixonada por filmes e séries, livros, café e música.
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