SEXTA CONVERSA #01 – 80 Tiros


Sexta-feira passada, 5, publiquei aqui o que penso sobre a declaração do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, de que já estão em atividade os atiradores de elite na polícia do estado. Caso queira ler é só clicar aqui. No que escrevi alerto para a normatização e a imposição da pena de morte onde um agente do Estado brasileiro declara abertamente que se pode matar sem as devidas medidas legais estabelecidas, e olhe que não temos pena de morte no país, pelo menos não legalizada. E fica mais dramático toda essa história quando se trata de um governador que ora é um ex-juiz.

Pois bem, essa tragédia anunciada mostrou-se quase que uma profecia no domingo, 7 de abril, quando o músico e segurança Evaldo Rosa dos Santos, 51, foi assassinado por, ao menos, 10 militares do exército brasileiro, que patrulhavam as ruas no entorno de um quartel do Exército do Rio, com mais de 80 tiros. Evaldo diria seu Ford Fiesta rumo a um chá de bebê quando, ao passar pelo bairro de Guadalupe teve o carro metralhado. No carro, além de Evaldo estavam esposa, sogro e o filho de 7 anos. Milagrosamente essa tragédia não foi maior. Ficaram feridos o sogro de Evaldo e um pedestre que passava no local e foi tentar ajudar e foi criminosamente também baleado pelos militares.
Fato posto quero compartilhar nesse post a opinião do cantor Emicida, no programa Papo de Segunda, exibido na Canal GNT, segunda-feira,8.

“Eu acho que esse argumento do engano, é muito canalha, sabe...? Porque não é um engano. Tem uma confusão recorrente que acontece, se você der um ‘Google’ agora de ‘polícia confunde’ uma determinada coisa com uma arma na mão de uma pessoa pobre preta. É um guarda-chuva, uma furadeira, um cano, uma ferramenta, uma caixa de sapato... E tudo isso leva a um final trágico, sabe?! Então você tem famílias inteiras destruídas com base nisso. Eu acho que a primeira coisa que a gente precisa fazer, até pra respeitar a dor dessas pessoas, a perda dessas pessoas, é colocar isso, é chamar isso do que isso realmente é: um processo de extermínio da pessoa preta no Brasil, entendeu? Não é um ponto fora da curva. Infelizmente. Principalmente no Rio de Janeiro, onde a maioria dos casos que tiveram popularidade aconteceram. A gente ‘tá falando pouco tempo depois de um estudante ter sido alvejado pela polícia, uma criança de sete anos foi alvejada pela polícia esse ano. A algum tempo atrás 111 tiros num carro com cinco garotos que foram comemorar o seu primeiro salário e a única coincidência de tudo isso é: a polícia com uma arma na mão e um grupo de pessoas de peles escuras (do outro lado). E se você entrar agora na internet você encontra determinados grupos de pessoas que estão fazendo um esforço, um malabarismo fantástico pra tentar de fato culpar esse senhor, colocar na mão dele uma arma, uma evidência de um crime que não existia pra justificar essa truculência e esse assassinato cometido pelo Estado brasileiro.”

Sim, Emicida. Você está certíssimo em seus argumentos e não tenho nada mais acrescentar ao que dizer. Finalizo com que dizia Ricardo Eugênio Boechat: “o Estado brasileiro é nosso real inimigo”. Ele tinha razão.

Tenho dito!

Para quem quiser ver o trecho do programa Papo de Segunda com o que disse Emicida e a opinião dos demais clique aqui.

Por
Fábio Christiano!
@fabiocristiano / fabiochristiano@gmail.com
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Autor FÁBIO CHRISTIANO!

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