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Ensino à distância,
universidade paga, "vouchers": possíveis planos do presidente eleito
Jair Bolsonaro.
Por Luane Miranda
Com um discurso de extrema direita baseado em "Eu vou mudar tudo
isso aí, ok?", o presidente eleito Jair Bolsonaro, pode levar a educação
brasileira por caminhos bem diferentes dos dias atuais. Com seu posicionamento
conservador, o plano de governo ainda não é claro, mas pressupõe a inversão da
pirâmide de investimentos, transferindo recursos da educação superior para a
básica (infantil, fundamental e médio). Segundo o estudo da Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil gasta três vezes mais
com estudantes universitários do que com alunos dos ensinos fundamental e
médio.
Bolsonaro diz que é possível fazer muito mais com esses recursos já que
o Brasil investe aproximadamente 5% do PIB em educação. O plano prevê melhorar
a remuneração dos professores e investir em qualificação, se espelhando em
modelos de países como Japão e Coreia do Sul, onde os professores recebem
quatro vezes mais que os brasileiros, mas não deixa claro como fará esse
processo. Outra ideia do então presidente, inclusive já citado pelo futuro
ministro da Economia, Paulo Guedes, é o "voucher educação". A
proposta visa distribuir vales para as famílias escolherem um colégio privado
para matricularem seus filhos. Em tese, o governo economizaria com a manutenção
de escolas e a folha de pagamento dos
professores, já que teria uma maior participação de instituições privadas.
Países como Japão e Coreia do Sul, conduzem a educação básica por meio das
escolas públicas e se inspiraram em modelos testados nos Estados Unidos e
Chile, que adotou os vouchers na época da ditadura de Pinochet, na década de 1980.
Mesmo apresentando resultados melhores em análise de desempenho que o
Brasil, o Chile ainda está distante do nível apresentado por países
desenvolvidos no ranking Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa).
No caso do Chile, os vouchers cumpriram o seu papel importante de incluir
alunos nas escolas, mas a qualidade da educação ainda não é a melhor. Essa
proposta é uma lógica de mercado, o que gerou problemas sérios no Chile , já
que os alunos mais pobres acabaram relegados às piores escolas. Essa proposta
adaptada à realidade brasileira, preocupa os especialistas em educação, pois
essa medida pode agravar a desigualdade e a separação social nas escolas.
Outra proposta do governo é cobrar mensalidade em universidades
públicas. Pela proposta os mais ricos pagariam para estudar e os recursos
gerados serviriam para financiar o estudo dos mais pobres.
“O ensino superior deve seguir uma linha similar a da política que o SUS
adota: universalidade, integralidade e equidade. A partir do momento em que a
lógica de mercado é inserida na Universidade, está se torna excludente e acaba
com a ideia de universidade. O princípio de equidade seria para equiparar a
permanência dos estudantes no ensino superior. Por exemplo, as políticas de
assistência estudantil que dão conta de auxiliar um estudante de baixa renda ou
que não tenha condições de trabalhar durante o curso. Essas políticas deixam de
fora, seguindo o princípio de equidade, os estudantes com renda ou que excedem
o limite já estabelecido. Dessa forma, o estado jamais deve se eximir da
universalização do ensino superior, o que deve ser melhorado são as políticas e
a forma como são aplicadas.” diz Beatriz Cedraz, estudante de Psicologia da
Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
Outra medida cogitada pelo presidente eleito é a ampliação do ensino à
distância (EaD). A proposta sugere usar a tecnologia como forma de baratear os
custos, ampliar o alcance da escola em lugares distantes. Vale ressaltar que
Jair Bolsonaro cita esta medida, como forma eficaz para se combater a suposta
doutrinação política, com aulas gravadas e a interação entre aluno e professor
controladas.
“Não vejo essa proposta com bons olhos. Acredito que a educação a
distância não é um ponto positivo para um país como o nosso. A escola tem
papel fundamental na vida das pessoas e
não vejo essa proposta como uma forma de priorizar a educação. Vejo isso como
um distanciamento da responsabilidade do governo em promover uma melhor
educação.” diz Cibele Araújo, professora do Colégio Polivalente.
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