Segunda temporada está recheada de dilemas individuais
Fonte: Reprodução/Netflix |
Quem assistiu sabe o quanto
Sex Education faz jus a toda a audiência e sucesso adquiridos na primeiratemporada. Agora, em um retorno triunfal, a série consegue repetir a receita de
sucesso e mais, consegue nos cativar com uma abordagem simples e relevante.
Ao superar o estigma de série
adolescente, Sex Education apresenta um roteiro original e expressivo. O
assunto principal continua sendo sexo. Considerado tabu para muitos, a série
consegue trazer para debate diversos temas que interessam não só a adolescentes,
mas a adultos também.
No primeiro episódio, a escola
de Moordale enfrenta um “surto” de clamídia e logo alunos e professores começam
a usar máscaras para se proteger da doença, o que seria cômico se não fosse
trágico. Justamente, por que esta passagem serve apenas para denunciar como
tanto jovens quanto adultos estão desinformados a respeito das DST’s e o quanto
é urgente a educação sexual (que ao contrário do que muitos pensam, não serve
para incentivar o sexo). Diante deste cenário, a Dra. Jean Milborn é chamada
para ajudar o que faz sua relação com seu filho Otis ficar ainda mais tensa.
Levando adiante sua intenção
de desconstruir alguns tabus como orientação sexual, assédio, suicídio, DST e
problemas familiares mais complexos, a série é mais uma vez assertiva ao
englobar diversos temas em uma narrativa dinâmica e diversa, e sempre aberta ao
diálogo. Nesta segunda temporada somos presentados com o desenvolvimento das
trajetórias individuais dos personagens principais, e claro a inclusão de novos
personagens.
O protagonista Otis é apresentado
sob uma nova perspectiva. Se na primeira temporada ele era tido como o sabe
tudo do sexo, agora, ele descobre a dura penas que na prática a teoria é outra.
Ainda apaixonado por Maeve ele tenta engajar um relacionamento com Ola (Patricia
Allison), o que traz à tona a sua falta de experiência. A convivência com sua
mãe só tende a piorar quando ela assume seu namoro com Jakob (pai de Ola) e
“rouba” seus clientes da clínica. Sem falar na aparição de seu pai que promete
abalar seu núcleo familiar.
Falando em relacionamento
familiar conturbado, temos Maeve que volta mais madura e que merece destaque.
Sua mãe é uma (ex) drogada que tenta acertar errando, o que compromete a filha
que por muitos anos teve de aprender a se virar sozinha. Estas passagens servem
para questionar o papel dos pais no crescimento dos filhos e de como a família
nem sempre é um porto seguro.
Ola e Adam (Connor Swindells)
andam por caminhos semelhantes ao tentarem se autodescobrir. Ela se despindo da
máscara de adolescente autossuficiente e bem resolvida, e ele tentando se
descobrir no mundo ao confrontar seus desejos.
Aimee está de volta, mas não
como um alívio cômico desta vez. Depois de largar o grupo dos populares, a
garota está mais solta e cheia de personalidade. Infelizmente, um caso de
assédio ameaça apagar seu brilho. Uma cena que me chamou a atenção foi quando
seu namorado entende o que ela está passando e não força a barra. Eles
simplesmente ficam deitados assistindo um filme. Isso é a série chamando a
atenção para uma coisa: sexo não é tudo em um relacionamento.
Melhor cena da segunda temporada. Fonte: Reprodução/Netflix |
As cenas mais engraçadas ficam
por conta de Eric e Otis, apesar de nesta nova fase eles estarem mais distantes
em suas próprias jornadas.
Já falei em um outro post o
quanto Eric e Jean são meus xodós né? Pois então, nesta segunda temporada, eles
estão ainda melhores. Eric (melhor personagem da série e acabou) continua com
sua energia contagiante e finalmente se abriu para o mundo.
Rahim interpretado
por Sami Outalbali é o aluno novo que todo mundo deseja, mas ele só tem olhos
para Eric, que pela primeira vez sente o que é ser prioridade. As cenas deles
juntos são capazes de alcançar a paz mundial. Mas sempre tem um embuste para
atrapalhar, né? Adam volta do colégio militar promete colocar algumas dúvidas
na cabeça de Eric.
Rahim, aluno novo que rouba o fôlego de Eric. Fonte: Reprodução/Netflix |
Isaac é outra adição de elenco que promete mexer em nossas estruturas ao apresentar um personagem cheio de nuances e sem definição de vilão ou mocinho, ainda. Fonte: Reprodução/Netflix |
Jean continua uma fada sem
defeitos, quer dizer, mais ou menos. Mas uma vez somos conquistados pela
belíssima interpretação de Gillian Anderson, que consegue humanizar e trazer um
toque de fragilidade na personagem mais foda e complexa desta série.
O dueto improvável de Jackson
(Kedar Williams-Stirling) e Viv (Chinenye Ezeudu) nos faz despertar para
algumas questões como ansiedade e amizade entre homem e mulher. Jackson sofre
de ansiedade e ainda não consegue falar com suas mães sobre não querer seguir
seus passos na natação (aqui voltamos a conversa sobre famílias tóxicas) e
acaba encontrando em Viv uma amiga verdadeira e sem julgamentos.
Viv por outro
lado tem todo o potencial para ser mais desenvolvida na próxima temporada. Um
detalhe que quase deixei passar foi seu esforço em ser a melhor. Talvez seja
por ser mulher e negra ela tenha essa percepção de que tem de se esforçar mais
do que os outros e acaba deixando de viver a vida por enxergar nos estudos sua
única plataforma de sucesso.
Queremos mais dessa amizade na terceira temporada. Fonte: Reprodução/Netflix |
Outra questão que me deixou um
pouco incomodada foi a tentativa de fazer Ola e Maeve antagonistas. Alô
produção, rivalidade feminina é tão 2016, melhorem! Mas isso é remediado com
uma das cenas mais lindas da temporada inteira, ao colocar algumas das
personagens femininas juntas pensando sobre o que as une. Uma baita lição de
sororidade. Por falar em sororidade, o que
dizer da amizade entre Jean e a Sra. Groff que já considero para caramba? Tudo
isso graças a genuinidade que Samantha Spiro traz para esta personagem tão
contemporânea infelizmente.
A maratona dos 8 episódios
passa sem nem você perceber com uma trilha sonora incrível dos anos de 1990 e
com a manutenção da estética vintage.
Apesar do final bem básico e previsível, Sex Education consegue voltar para o
segundo tempo ainda melhor do que o anterior. Com um roteiro incrível, a trama
aperfeiçoou seus melhores ingredientes e conseguiu nos entregar uma história
autêntica e cheia de diversidades com personagens que funcionam por refletir um
pouco de cada de nós.
0 comentários:
Postar um comentário